Abril Azul - Mês de Conscientização sobre o Autismo

O Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014), é caracterizado como um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta de forma persistente a comunicação e a interação social do indivíduo, associado a padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou de atividades.

As características comuns do sujeito com TEA incluem rotinas rígidas, maior sensibilidade a estímulos sensoriais e dificuldade em regular e expressar emoções. Esses indicativos são passíveis de serem percebidos precocemente logo na primeira infância.

Atualmente, o DSM-V estabelece como nomenclatura oficial Transtorno do Espectro Autista, abarcando desordens que anteriormente eram relacionadas ao autismo, como o Autismo Clássico e o Transtorno de Asperger. As manifestações do transtorno podem variar de acordo com a gravidade da condição autista e do nível de desenvolvimento, por isso o uso do termo espectro, uma vez que existem características comuns aos indivíduos, mas sua manifestação é heterogênea.

 

Quais são suas causas? Quantas pessoas têm TEA?

A etiologia (causas da doença) do Transtorno do Espectro Autista ainda é desconhecida, embora a tendência seja considerá-la de origem multicausal associada aos fatores genéticos, neurológicos e sociais do indivíduo. Em relação ao gênero, o TEA é diagnosticado com maior frequência no sexo masculino do que no sexo feminino, com uma proporção de quatro para um.

Segundo o DSM-V, estima-se que a prevalência (proporção ou número total de casos existentes numa determinada população) do TEA nos Estados Unidos e em outros países está por volta de 1% da população total, com estimativas similares em amostras de crianças e adultos. Dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, 2020) dos Estados Unidos, indicam uma prevalência de autismo estimada de uma em cada 54 crianças. Por outro lado, no Brasil, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2017) estima que uma em cada 160 crianças apresenta o Transtorno do Espectro Autista.

 

Dificuldades e preocupações cotidianas enfrentadas pela pessoa com TEA em contexto acadêmico

O estudante com TEA pode apresentar algumas dificuldades e se deparar com desafios práticos ao longo de sua trajetória acadêmica, tais como:

  • Organizar e planejar o tempo, que inclui tarefas, trabalhos, materiais, provas, metas e objetivos de aprendizagem;
  • Compreender e interpretar linguagens complexas, figuradas, literais e abstratas (metáforas, sarcasmos, ironias, piadas, duplos sentidos, etc.), inclusive questionamentos amplos, sem orientação específica;
  • Interpretar corretamente comportamentos não verbais, expressões faciais, emoções, intenções, linguagem corporal e entonação de voz, bem como aplicá-los à sua prática social;
  • Manter atenção e motivação constantes quando se tratam de atividades distantes dos seus temas de interesse;
  • Realizar atividades grafomotoras (grafia ilegível, maior tempo para escrever e realizar uma prova, etc.), devido às alterações na coordenação motora fina;
  • Executar várias atividades ao mesmo tempo;
  • Manter contato visual;
  • Lidar com estímulos sensoriais, pois possui hipersensibilidade sensorial (luzes muito intensas, ruídos extremos, cheiros, sabores ou texturas específicas, etc.);
  • Flexibilizar suas rotinas e lidar com situações novas e inesperadas;
  • Compartilhar interesses comuns;
  • Reconhecer suas próprias habilidades e pontos fortes;
  • Ter expectativas e cobranças excessivas e irreais;
  • Saber como e quando buscar ajuda;
  • Iniciar, manter e terminar uma conversa, devido às dificuldades na interação e na comunicação;
  • Identificar assuntos apropriados ao contexto, de maneira a manter a conversa e não ser inconveniente;
  • Estabelecer e manter relações pessoais constantes;
  • Vivenciar mudanças;
  • Realizar trabalhos em grupo;
  • Apresentar oralmente e se expor diante de um público;
  • Lidar com o isolamento social;
  • Conseguir comunicar suas necessidades e preferências;
  • Lidar com a falta de apoio e suporte educacional e social para enfrentar situações novas e desconhecidas no ambiente acadêmico;
  • Lidar com preconceitos, discriminação, falta de compreensão e aceitação;
  • Julgar adequadamente a intenção do outro e se defender adequadamente;
  • Identificar as exigências do professor e as expectativas dos colegas;
  • Cumprir com suas obrigações acadêmicas no tempo adequado e apresentar êxito no desempenho acadêmico.

Algumas dessas dificuldades e preocupações fazem parte da vida de vários outros estudantes, contudo, enquanto a maioria deles consegue se adaptar de modo razoavelmente rápido às situações e contar com uma rede de apoio (amigos, colegas, familiares, professores, coordenadores, etc.), o estudante com TEA nem sempre pode dispor desse apoio, além do fato de, muitas vezes, não possuir suporte educacional adequado às suas necessidades. Tais situações podem acarretar aumento da ansiedade, da baixa autoestima, do isolamento social, da dificuldade de aprendizagem e, consequentemente, levar ao baixo desempenho acadêmico, o que pode levar a reprovações sucessivas e até mesmo na desistência do curso.

 

Potencialidades do estudante com TEA

O estudante com TEA possui potencialidades? Habilidades? Quais?

Ser estudante universitário de uma universidade pública expressa uma das potencialidades da pessoa com TEA, pois, além de ser preciso um desempenho satisfatório para ter sido classificado no vestibular, é necessário lidar com mudanças, se adaptando ao contexto universitário e a sua rotina diante da nova realidade.

Há uma série de habilidades específicas que o estudante com TEA comumente apresenta, dentre as quais podemos destacar:

  • Facilidade no processamento visual e espacial das informações;
  • Boa memória mecânica e de longo prazo, podendo vir a desenvolver habilidades extraordinárias em áreas específicas, como na música, na matemática, na pintura, no desenho, etc.;
  • Atenção e precisão aos detalhes;
  • Intensa dedicação, motivação, concentração e foco nas atividades e/ou temas específicos do seu interesse;
  • Propensão para pensar racional e logicamente, permitindo a resolução de problemas por diferentes perspectivas e por soluções práticas;
  • Respeito e adesão às regras estabelecidas e cumprimento delas;
  • Gosto por seguir rotinas, adaptando-se com exatidão ao proposto;
  • Elevado senso de justiça, sinceridade e honestidade;
  • Amplo conhecimento e curiosidade sobre temas específicos e por entender o funcionamento das coisas;
  • Facilidade com tarefas mecânicas, precisas e repetitivas;
  • Extenso vocabulário e facilidade em aprender diferentes línguas;
  • Comportamento de escuta elevado, mostrando-se bom ouvinte.

 

Mitos, estereótipos, preconceitos sobre TEA

Há muitos dados e materiais circulando (pelas mídias sociais, pela internet ou por produções midiáticas) que não possuem comprovação científica, ou seja, que apresentam informações não fidedignas a respeito do TEA. Isso é perigoso, pois contribui para a ilusão e o desenvolvimento de ideias e concepções equivocadas sobre o transtorno, contribuindo para a propagação de mitos, preconceitos e estereótipos sobre esse público. Vamos desmistificar alguns conceitos juntos, uma vez que muitas compreensões e informações equivocadas são bastante comuns.

 

  1. O TEA tem cura?

Não. O TEA é uma condição permanente, ou seja, a pessoa nasce com o transtorno e permanece com ele ao longo de toda a sua vida. Mas é claro que, com o auxílio de uma rede de apoio (terapias, família, amigos, educação, etc.), é possível reduzir os sintomas do transtorno, promovendo maiores possibilidades de desenvolvimento e qualidade de vida dos sujeitos.

 

  1. O TEA é uma doença contagiosa?

Não. O TEA não é considerado uma doença e sim um transtorno do neurodesenvolvimento, não sendo transmitido de uma pessoa para outra! Sua origem ainda é desconhecida, porém há diversas pesquisas sendo realizadas pelo mundo afora e acredita-se em múltiplas causas: genéticas, biológicas e ambientais.

 

  1. Toda pessoa com TEA tem deficiência intelectual?

Não. Pelo fato de o TEA se configurar como um “espectro”, com diferentes níveis de comprometimento, há pessoas que podem apresentar prejuízos cognitivos, bem como outras condições singulares. A literatura científica aponta que um terço das pessoas com TEA pode apresentar algum nível de deficiência intelectual.

 

  1. Todas as pessoas com TEA são iguais?

Não. Como todo ser humano, cada pessoa com TEA é singular, diferente e única! Não há duas pessoas com TEA iguais. Cada pessoa com TEA tem seu jeito de ser e estar no mundo, construindo diferentes histórias de vida. Importante: como qualquer outra pessoa, esses sujeitos apreciam ser valorizados pela sua individualidade.

 

  1. Todas as pessoas com TEA possuem mentes brilhantes, são “gênios”?

Não. As pessoas com TEA, assim como todas as outras, possuem habilidades e dificuldades, portanto, podem ter desempenho acima, abaixo ou na média. Contudo, algumas pessoas com TEA de nível leve ou de alto funcionamento possuem habilidades intelectuais que chamam a atenção, especialmente nas áreas de conhecimento pelas quais esses sujeitos têm interesse.

 

  1. As pessoas com TEA não possuem sentimentos?

Não. As pessoas com TEA podem ter dificuldade em identificar e expressar suas emoções e sentimentos, mas isso não quer dizer que não os sentem e que não são afetados por eles. Gostam de se sentir amadas, respeitadas, aceitas e expressam seus afetos de diferentes formas (nem sempre tão convencionais). Além disso, chacotas e piadas sobre pessoas com TEA, bem como o uso de palavras de mau gosto para se referir a elas (como insensíveis, esquisitas ou frias), podem machucá-las, ferindo seus sentimentos, e levá-las a se afastarem do convívio social.

 

  1. As pessoas com TEA não querem ter amigos? São antissociais?

Não. As pessoas com TEA demonstram mais dificuldade no trato social, ou seja, no estabelecimento de interações sociais, uma vez que interpretar sinais não verbais transmitidos pelo outro, ou compreender a linguagem corporal são tarefas bastante complexas para elas. Isso não significa que não tentem ter vínculos com outras pessoas ou não estejam interessadas nisso. Todavia, é mais comum, entre as pessoas com TEA, a preferência por realizar atividades sozinhas e tal comportamento deve ser respeitado.

 

  1. As pessoas com TEA não têm capacidade de aprender?

Não. As pessoas com TEA possuem seu próprio tempo, ritmo e forma de aprender, desenvolvendo suas potencialidades. Todavia, podem apresentar, ao longo da vida, necessidades educacionais específicas que devem ser atendidas durante o processo de ensino, de maneira a garantir condições para uma aprendizagem mais efetiva e um melhor desenvolvimento.

 

Necessidades de apoio vivenciados pelos estudantes com TEA

Existe a possibilidade de que a pessoa com TEA cursante da Educação Superior precise de suportes adaptados às suas necessidades específicas (CAMINHA, et al., 2016). Neste sentido, elencamos alguns recursos que visam maximizar a permanência da pessoa no ensino superior e permitir a ela finalizar os estudos:

  • Suportes atitudinais: A pessoa com TEA deve ser respeitada e suas características legitimadas. Para isso, é preciso que a comunidade acadêmica aprenda a conviver com o sujeito nesta condição e legitime seu modo de ser. Diálogos em formato de frases curtas e claras, velocidade e ritmo de fala reduzidos são sugestões para facilitar a comunicação com a pessoa com TEA. A prática do bullying, expressa por meio de zombarias, e/ou a exclusão da pessoa de grupos de colegas devem ser eliminadas.

 

  • Suportes informacionais: Se faz necessária a disponibilização do mapa da unidade, com telefones e itinerários de serviços da universidade. Sites com layouts simples e organizados, a partir de diagramas, facilitam a orientação e o acesso às possibilidades acadêmicas, como informações sobre atividades extracurriculares, organização estudantil, laboratórios da universidade, departamentos, oportunidades de bolsas de estudos e carreira, dentre outros dados essenciais.

 

  • Suporte pedagógico: Oferta de serviços e/ou suportes de atendimento especializado às demandas das pessoas com TEA, inclusive iniciativas de orientações dirigidas aos professores, que auxiliem no preparo das aulas, adequando o formato destas às condições específicas de aprendizagem desses estudantes. Serviços de orientação educacional ofertados por pedagogos e psicólogos a professores, em formato de supervisão e/ou estudo de caso, podem auxiliar os docentes a propor atividades que respeitem as características do quadro sintomatológico do estudante com TEA. Acredita-se que a figura do coordenador de curso pode ser bastante importante nesse processo, sensibilizando e orientando docentes e discentes a respeito. Porém, para isso é preciso que todos sejam informados da presença do estudante com TEA no curso, para que possa buscar suporte institucional.

 

Fonte: https://educadiversidade.unesp.br/guia-de-orientacoes-sobre-transtorno-do-espectro-autista/

Data de Publicação: terça-feira, 02 de abril de 2024

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