Os
reflexos dos acidentes de trânsito na rede pública hospitalar foram debatidos
em sessão especial na noite desta segunda-feira (9), no Plenário Dirceu Cardoso
da Assembleia Legislativa (Ales). A iniciativa, de autoria do deputado Doutor
Hércules (PMDB), que preside a Comissão de Saúde, Saneamento e Assistência
Social da Casa, atraiu um grande público interessado em buscar alternativas
concretas para reverter o quadro de acidentados e mortalidade no trânsito.
Destinada
a debater a segurança no trânsito e o crescente número de mortos e feridos
graves resultantes de acidentes automobilísticos, a audiência reuniu
representantes de órgãos públicos, organizações da sociedade civil e estudantes
universitários. Entre os convidados estava a vereadora da Câmara Municipal de
Afonso Cláudio (CMAC) Selma Littig, presidente da Comissão Especial de Saúde do
órgão.
Os
acidentes de trânsito já disputam com os homicídios as taxas de mortalidade e a
ampliação do uso de motocicletas vem aumentando de forma considerável esse número.
O acidentado de moto normalmente sofre ferimentos mais graves, o que requer
mais tempo de internação para recuperação.
Todos os
palestrantes, à unanimidade, exigiram uma legislação mais rigorosa e
exemplarmente aplicada, além de melhorias na engenharia do trânsito e nas
condições das estradas. Defenderam a educação de trânsito como um mecanismo
importante na construção de um tráfego consciente e revelaram que a situação
atual permite apenas um aumento no número de vítimas de trânsito, mas com
poucas pessoas sendo responsabilizadas.
Na opinião
do deputado Doutor Hércules, é preciso debater e mostrar para a sociedade o
quanto os acidentes de trânsito contribuem para a superlotação dos hospitais.
“Estamos visitando todos os hospitais estaduais da Grande Vitória e posso
afirmar: os acidentes de trânsito estão contribuindo de maneira assustadora
para a superlotação nos nossos hospitais e cerca de 40% destes acidentes são
resultados da combinação desastrosa entre bebida e volante”, afirmou.
O
subsecretário de Estado da Saúde, Geraldo Correa, salientou que os números de
acidentes envolvendo motocicletas assustam as autoridades de saúde, pois
apresentam crescimento muito superior aos de trânsito em geral. Enquanto estes
aumentaram 211% entre 2006 e 2010, as colisões com motos cresceram, no mesmo
período, 1200%.
Adiantou
que dos 500 pacientes atendidos na rede hospitalar, 300 são vítimas de
acidentes de trânsito. “Não há sistema de saúde pública e privada que sustente
isso. Não há leitos suficientes para atender esses acidentados. Os números
causam indignação a todos nós”, frisou. Segundo ele, o Governo do Estado está
engajado em mobilizar e promover ações efetivas para enfrentamento e reversão
no número de acidentes de trânsito.
A
Secretaria Estadual da Saúde gasta R$ 6,6 milhões por mês, ou cerca de R$ 80
milhões por ano, com o tratamento de vítimas de acidentes de trânsito. O
elevado gasto está relacionado à gravidade das vítimas, que muitas vezes ficam
com sequelas. Por esse motivo, a média do tempo de internação hospitalar acaba
sendo maior, comprometendo a rotatividade dos leitos. Somente nos três
primeiros meses deste ano foram registrados 2.708 acidentes de trânsito. Deste
total, 1.560 envolvendo motociclistas.
A diretora
do Departamento Estadual de Trânsito do Espírito Santo (Detran/ES), Rosane
Giuberti, informou que o Estado conta com 1,35 milhão de veículos cadastrados e
30% deste total são de motocicletas, mas as condições de fiscalização e das
estradas e vias urbanas não acompanharam esse crescimento.
Acentuou a
importância da educação de trânsito nas escolas e do envolvimento da família na
orientação de seus filhos. A maioria das vítimas de trânsito é jovem e do sexo
masculino. “Dirigir não é um direito, é uma concessão cuja permanência depende
da continuidade ao cumprimento das regras do trânsito”,lembrou.
José
Adalberto Dazzi, procurador de Justiça, fez a distinção entre direções
perigosas e atos perigosos. “As direções perigosas se relacionam aos chamados
pontos críticos cuja observância compete aos setores da engenharia do trânsito.
Os atos perigosos são de responsabilidade do cidadão e cabe a ele responder por
estes atos”, pontuou.
O
presidente do Sindicato das Auto-Escolas, Oswaldo Maturano, destacou que a
categoria não pode ser responsabilizada pela epidemia em que se transformou os
acidentes de trânsito, acrescentando que a entidade a busca a
profissionalização e regulamentação do setor. Já o presidente do Sindicato dos
Motociclistas, Alexandre Martins Costa, garantiu que a categoria já conta com 826
mutilados, ressaltando ainda a difícil situação financeira por que passam.
O deputado
Luciano Rezende (PPS) foi enfático ao defender uma legislação e fiscalização
mais eficiente. Reconheceu a limitada margem de atuação do Legislativo Estadual
para atuar no assunto e propor leis mais rígidas e refutou a combinação álcool
e direção. “O bafômetro não pode ser o único meio para atestar a embriaguez do
condutor. Sinais de embriaguez são suficientes para comprovar as condições em
que se encontra um condutor”.
De acordo
com o delegado de Delitos de Trânsito, Fabiano Contarato, a aplicação rígida do
Código de Trânsito Brasileiro (CTB) só é feita se o infrator for “pobre, preto
ou semi-analfabeto”. A legislação, no entender de Contarato, coloca em um mesmo
nível os motoristas responsáveis e o motorista alcoolizado, que dirige com
excesso de velocidade e com visíveis sinais de uso de psicoativos. Isso, no
entender dele, fere o princípio da igualdade.
O delegado
lembrou que o CTB existe há 13 anos e determina que o tema educação para o
trânsito seja ensinado nas escolas de ensino médio. Uma determinação que nunca
foi aplicada: “É letra morta, e se tivesse sido implantada talvez evitasse
muitos acidentes, muitas mortes. O Detran não pode ser mais visto como um mero
arrecadador de multas, quando o maior bem é a vida humana”.
Criticou a
fiscalização hoje feita no Espírito Santo e que a atual legislação permite que
um motorista se recuse a fazer o teste do bafômetro. “O condutor não é obrigado
a fornecer nem sangue, nem urina. Mesmo que mate no trânsito, não fica um só
dia preso. A pena por homicídio culposo pode chegar a seis anos, mas o juiz é
obrigado a aplicar pena alternativa.
Ao fim da
audiência ficou visível que ações efetivas como a conscientização humana, o
maior envolvimento de campanhas educativas e preventivas, com a participação
efetiva dos órgãos competentes, devem ser adotadas pelo poder público. A
representante do Movimento Justiça Brasil, Sandra Cassaro, fez um apelo
dramático e emocionante em nome das famílias das vítimas do trânsito e defendeu
punição mais ágil e severa para os infratores.
Fonte: Assessoria
Deputado Doutor Hércules
Data de Publicação: quarta-feira, 11 de maio de 2011